Não estou sozinha

Acho que desde pequena já apresentava sinais de que era uma gastadora compulsiva. Costumava gastar a minha mesada comprando gibis. Nunca precisei me preocupar com dinheiro porque meu pai ganhava bem e nunca faltou nada em casa.

Tudo mudou quando passei na faculdade em outra cidade. A faculdade era integral e eu não poderia trabalhar pra me sustentar. Pra piorar a situação, meu pai não me mandava uma quantia fixa por mês. Ele me dizia que à medida que eu estivesse precisando de dinheiro, era só ligar para pedir. Isso com certeza não poderia terminar bem. Meu pai é autônomo e a empresa que ele trabalhava começou a falir. Ele começou a ganhar cada vez menos e, eu, estava gastando cada vez mais. Chegou um ponto que meu pai já não conseguia me mandar dinheiro e eu, acabei fazendo meu primeiro empréstimo.

Na época, estava namorando e meu namorado tentou impedir esse empréstimo, mas não teve jeito. Esse foi só o primeiro empréstimo de muitos que estavam por vir. As prestações do empréstimo atrasaram, entrei no cheque especial, deixei de pagar o cartão de crédito. Recebi um monte de cartas do SERASA. Negociei e quando me formei, já estava quitando praticamente todas as minhas dívidas. Porém, isso não bastou, e eu, mantendo meu namoro à distância e sem trabalhar, acabei renovando o empréstimo. Acabei fazendo outros empréstimos e já estava endividada novamente.

Nessa época, meu irmão me ajudou a quitar algumas dívidas. Já estava trabalhando, mas ganhava pouco. Passei num concurso e comecei a ganhar melhor. Isso foi bom por um lado, mas, ganhando mais a tentação foi ficando cada vez maior. Fiz o consignado pra quitar outras dívidas, mas acabei fazendo outros empréstimos também. Comecei novamente a me endividar. Pra piorar a situação, meu namorado quis comprar uma casa e fizemos um contrato de gaveta em meu nome. Pedi dinheiro emprestado pro meu irmão e ele, vendo que eu estava endividada, começou a administrar minha conta. Estava mais aliviada, mas, precisava quitar os cheques de entrada da compra da casa, e como eu ainda tinha a senha do internet banking, acabei transferindo pra conta do meu namorado. Meu irmão descobriu e desistiu de me ajudar. Além disso, ele também cobrou o dinheiro que tinha me emprestado.

Novamente, acabei fazendo outros empréstimos. Chegou um ponto, que comecei a fazer um empréstimo pra quitar o outro. Não conseguia mais pagar nem os que eu já tinha, mas não conseguia parar. Tinha muita vergonha das minhas dívidas e guardava tudo pra mim.

Superendividada, não sabia mais o que fazer. Pesquisei na internet sobre as dívidas e encontrei os Devedores Anônimos. Procrastinei e demorei pra ir na minha primeira reunião. Desde a primeira reunião, me senti acolhida e comecei a ver que havia uma luz no fim do túnel. Sinto que não estou mais sozinha!

Já faz dois meses que eu participo e não me arrependo. Ainda estou endividada, mas não me sinto tão desesperada como antes. Sei que tenho uma doença, porém, o primeiro passo pro tratamento já foi dado. Junto com os Devedores Anônimos sinto que sou mais forte e que posso ter esperanças na minha recuperação.

Anônimo - Setembro de 2014